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Sou um artista da música. Além de médico, professor, pai etc, sou um artista e convivo com a arte diariamente. Quando me afasto das minhas atividades artísticas e criativas me sinto como que afastado de mim mesmo, como quem perde o seu ponto de equilíbrio. Um certo ponto da minha carreira médica passei a investigar ativamente com os meus pacientes sobre suas atividades artísticas sobre sua relação com as Artes e descobri coisas, mais ou menos previsíveis, mas que são surpreendentes. Assim como eu, a grande maioria dos pacientes em algum momento teve uma atividade artística a qual se ligou, e, estando em contato com ela, se sentia mais identificado consigo mesmo, mais equilibrado, mais encantador. Pude ver que a quebra de um equilíbrio em suas vidas, a fase de vida que levou aquela pessoa a necessitar de ajuda em Saúde Mental, quase sempre coincidia com o afastamento de suas atividades artísticas. O contrario também é valido: retornar as atividades artísticas significa uma reestruturação de seu bem estar.

Encaro então o momento da consulta como um momento de vida em que grande parte dos pacientes precisam ser reconectados com a arte, daí coloco isso como parte do insight terapêutico e como medida ativa de recuperação de sua qualidade de vida: buscar o reencontro com sua arte. Conheço as atividades artísticas dos meus pacientes, conheço mais deles através de suas obras, suas expressões perpassam nossos encontros onde frequentemente canto para eles. A minha própria atividade artística divulgada entre eles é parte de um programa de incentivo e inspiração para essa conexão com a sua própria arte. Costumo pensar que, ao ver um artista no seu médico eles se sentem mais estimulados a reencontrar com o artista dentro de si mesmos. Acompanho o desenvolvimento de sua arte como um indicativo alternativo de evolução clínica. Por tudo isso compus esse projeto chamado Reconarte, uma ideia capaz de abarcar um grande espectro de ações de sensibilização e estímulo à arte como forma de preservar o encanto pessoal e a saúde mental. Enquanto psiquiatra e professor universitário estou interessado em defender que atividades artísticas são importantes para a promoção e prevenção em saúde mental. Ancorado em dados científicos, mas primordialmente seduzindo pela experiência prática, almejo incrementar ações que reforcem a ideia de que a arte é tão importante para o equilíbrio mental quanto a atividade física, espiritualidade e hábitos saudáveis. Vamos juntos nessa jornada tão bela da experiência artística. Somente por ela vibramos toda a força da humanidade, e acessamos uma riqueza que parece exceder a própria vida, como dizem as palavras do célebre pai da medicina: “a vida é breve, a arte é longa..”.