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O Reconarte é um grande convite à reconexão com sua dimensão criativa e artística como uma forma efetiva de prevenção e promoção em saúde mental, estabelecendo equilíbrio com nossa dimensão mais encantadora.

Quando criança, todo o desenvolvimento infantil é acompanhado, facilitado, guiado e sustentado por atividades artísticas. Através das artes consegue-se mesmo definir avanços do desenvolvimento, uma vez que os marcos são captados por capacidades tais como emissão de sons, desempenho e precisão de movimentos corporais, imaginação e abstração. A presença da arte está em tudo: na magia das cores, no arrebatamento das historias, na beleza das canções, no envolvimento do lúdico. Para as crianças, desenvolver-se é envolver-se na arte. Exercendo e aprendendo arte os humanos se reconhecem como tais, explorando as suas capacidades até superar seus limites, paulatinamente. Nesse período a sociedade chancela a importância da arte. “venham ver como ela dança”, “desenha aí a mamãe e o papai”, “canta com a gente aí filhinha” “olha que versos lindos ele escreveu pra mim!”. A arte é oferecida como o grande mapa para a autodescoberta infantil como um ser de potencialidades, como um ser social. Sobretudo, o ser humano se descobre alguém com poder de encanto. A arte nos faz seres encantadores.

Mas é na adolescência que tudo começa a virar. Toda a paixão artística aprendida e incentivada na infância começa a ser valorada de forma diferente pela sociedade. De repente todos começam a dizer que aquele mapa estava errado e que agora é necessário abandona-lo: a arte não é um bom negócio, que se ocupe de outras coisas, uteis. Essa historia a maioria das pessoas conhecem. É o inicio de um grande projeto: dissociar a arte de todas as atividades de valor. Até a idade adulta, o expediente é fazer essa pessoa, que acaba de sair da infância, perder todo seu encanto, calar sua criatividade, atacar a estima de seus valores artísticos. Se a arte fazia o seu trabalho na infância permeando grande parte das atividades relevantes, agora, é necessário um luxo de ter tempo para ela. É um processo que faz o seu ingrato trabalho de envolver as pessoas no domínio técnico de um mundo mecânico, na racionalidade científica, no quadradismo mental, na normalidade de uma massificação previsível que lança agora expressões artísticas para o domínio do excêntrico. Um excêntrico, deslocado, que poucas pessoas querem ser, e que portanto, tendem a fugir. O que eu quero defender com o projeto do Reconarte é que a arte, como uma atividade tão estruturante para o desenvolvimento, não pode ser negligenciada sem atentar contra nosso equilíbrio. Que a arte, que esteve tão presente durante o desenvolvimento, forjando as potencialidades corporais e mentais humanas, não pode sair de cena sem efeitos colaterais. E que, portanto, precisamos reconhecer a sua função estruturante para o equilíbrio mental através de uma série de pistas, argumentos, estudos científicos, mas sobretudo na prática. O Reconarte é um grande convite à reconexão com sua dimensão criativa e artística como uma forma efetiva de prevenção e promoção em saúde mental, estabelecendo equilíbrio com nossa dimensão mais encantadora. O programa do projeto é defender que quanto mais arte, mais encanto, mais saúde mental.